segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Droga de vida! Vida na droga!

Droga de vida! Vida na droga!
Não queria ser este garoto abandonado
Que todos me deixam de lado
Não queria ver um menino beber um refrigerante
As vezes não tenho nem água
Olha aquele tenis maneiro no pé daquele boy com sua mãe
Hah! Não tenho nenhum dos dois
Duro é estar com fome
Passar na frente da padéra e ver tanta coisa gostosa
Nem mesmo uma senhora, uma moeda tem pra me dar
Aquele troquinho do pão
Um pedaço do pão
Saio, sento na calçada e olho pro chão
Vejo uma bituca de cigarro pela metade queimando
Fumei! Fazer o que! Nunca me falaram que faz mal
Não tenho televisão, como vou ver propaganda
"Ministério da Saúde adverte..."
É mesmo está escrito na embalagem
Não tenho uma moeda pra comprar um pão
Comprar maço de cigarro...
Mas já vi uma dessas caixinhas no chão
Infelismente naum sei ler
Pedir pra alguem ler pra mim!
Imagina! Não me dão atenção quando peço um pedaço de pão
Como vai ser com um maço vazio de cigarro na mão
É, o negócio é olhar pra frente!
Isso que vou fazer agora que já fumei...
Mas estou olhando pra frente, lá pro outro lado da rua
Olha lá, dando bobeira
Com sua carteira
Não quero fazer isso
Mas estou com fome, ninguém me dá, não posso trabalhar
Vou correndo pegar
Coitado, ficou gritando pega ladrão
Corri um montão, com a carteira do velho na mão
Ha! Ha! Ha!
Agora tenho dinheiro pra gastar
Tenho que tomar cuidado...
...E se a policia me pegar!
Vão me chamar de trombadinha ladrão
E posso preparar que muito vou apanhar
Além de tantas porcarias que vou escutar
"...seu Pivete, filho da puta, sem vergonha, ladrão..."
Com certeza isso vai ferir muito mais meu coração
Por causa da minha fome virei ladrão!
Ainda fico me imaginado sair de uma delegacia mancando depois de tanto bofetão
Mas eu continuo olhando pra frente!
Procurando um lugar escondido, pra poder contar o dinheiro que acabei de pegar
O que seria melhor se eu pudesse trabalhar
Sou pequeno, sem conhecimento, todo sujo, mal sei falar!
Já começou o preconceito, quem vai me arranjar
Aquele que aparece é pra abusar!
"Tremendo filho da puta", sou uma criança, tem que me respeitar
Deixa eu crescer...vou te matar
Mas que pensamento insânuo
"Já sou pobre fudido, ladrão, abandonado sem pai sem mãe"
E quando ficar adulto, um assassino me tornar, não!
Isso não! Deixa pra lá! Esse vagabundo um dia na vida vai pagar
E até mesmo não sei se chego lá, por que sempre estão tentando me matar
Vivo dormindo em vários lugares pra ninguém me achar
Até que aparece um mané, com algumas coisas na mão
Me falando: "...então, qualé, num vai pegá mané, te dou um dimdimzinho e ainda pode tomar um picolé..."
Fiquei feliz, vou trabalhar, não sei que porcaria era aquela, mas estou indo entregar
Coisa simples de fazer, ainda ganho um dinheirinho e um picolé
La está, o lugar pra entregar, vou chamar pra ver o que vai dar...
"...Oh seu fulano! Oh seu fulano! Trouxe aqui a parada do Sirclano, vem pegá"
Abriu a porta e..., e logo entreguei e já falei, cade o dinheirinho e o picolé
Ele me disse, "...entra ai muleque que vou te dar..."
"Puta que Pariu, que é isso?"
"É o seu picolé, não qué, vai ter que querer, vai tomar não é?"
Caraca, uma puta agulha vindu me furá, ai...Vazei
Nunca corri tanto, até escorreguei!
Que porra era aquela, hah! Ficar pra vê, escapei pela mercê que nem deu pra vê
Não quiz nem saber de fulano e sirclano, não quero morrer
Estou cançado, olho pro outro lado, vejo um menino sentado
Sujo e rasgado igualzinho a mim
Com um saquinho na mão, obah! Pensei que era pão
Vamos dividir irmão...
Ele colocava no rosto e brincava de encher e esvaziar, que diversão
Peguei o saquinho e olhei pro garoto que ria feito um bobão
No fundo do saco uma meleca, sei lá o que era, mas brinquei
Era legal, tinha um cheiro estranho e via o garoto rindo se divertindo
Cada vez que o saco esvaziava na minha cara era uma gargalhada que o muleque dava
"Ueh!! Ai pivete, tá me tirando?..."
Na verdade, quando percebi tudo estava rodando, milhares de sininhos tocando
Fiquei com ele brincando, rindo e sacaneando, nem percebi
Foi rápido, passou o tempo, quando descobri mais um pouquinho que vivi
Me virando aqui, ali, cresci, e aquele muleque é meu amigo, sempre me acompanhando
Virou família, virou irmão, grande procaria, só droga me trazia
Hoje sou viciado, aquela porcaria de cola não tá mais funcionando
É pedra pra todo canto, e eu! Eu ainda garoto, que alvoroço
Estou morrendo, ainda estou querendo, magro feito caniço, me ajudem, me acenda essa pedra que não consigo!
Hei você! O que quer que eu faça, me dá mais pedra, me dá!!
"Te dou, mas tu muleque, vai ter que matar, matar o beltrano pra me vingar
O "filho da puta" armou uma boca pra ele e uma tocaia pra me acabar
Pegar toda minha freguesia pra gerenciar.
Mas primeiro tem que fazer o serviço malandro, depois as pedras deixa que voi te dar
Aqui está a PT, não quero nem saber, amanhã vamu converçar"
Pronto to virando assassino, não queria, minha cabeça doia
A necessidade forçava, a pedra me chamava, que droga de vida!
Que vida na Droga!
Que vida acabada, abalada, sem acreditar em Deus, sem acreditar em graça.
Mas um anjo me apareceu, no meio do nada.
Ai! Ai acreditei!
Por que esse anjo me ergueu, na mesma hora em que apareceu, me deu a força
Me tirou da fossa! Ainda bem não matei, a PT nem sei, joguei fora não guardei
Me deu banho, comida, roupa e um quarto!
Estou cheirozinho, limpinho, nunca me senti assim antes
D'Maria, que me tirou da porcaria, me aceitou como filho de coração e me internou na clinica de recuperação
Noite e dia, eu sofria, minha carne, meu corpo queria, meu coração sangrava, eu chorava, eu morria
D'Maria, me amava, todo dia me visitava, ia pra casa e razava, no outro dia ali comigo estava
Converçava e chorava, minha dor, grande dor ela compartilhava, não era nada minha, era minha mãe que Deus me dava
Apareceu na hora certa em minha vida errada, minha vida estragada e dilacerada
A mãe que me adotava, a mãe...
Verdadeira e pura, que me afagava em sua cintura, tirava toda minha dor
Hoje eu sou um senhor, tenho minha linda família e nenhum de meus filhos faz o que eu fazia
Não tive infância, mas tive uma mãe, grande mãe
Vencedora, heróica e valente, meu coração hoje ainda sente
Por que quem venceu foi ela e não eu
Por aquele anjo que Deus me deu
Hoje são as lágrimas por ler a fraze de seu descanço
"Aqui jaz D'Maria, a heroína que me salvou"
Ludiro
25/02/2006
O conto acima é fictício de minha própria autoria, não foi baseada na história de nenhum conhecido, embora possa haver algum caso semelhante que desconheça!
As palavras prejorativas utilizadas são apenas formas de ilustrar o conto, não sendo termos ofencivos ao leitor!

2 comentários:

Benvinda Palma disse...

Seus rabiscos, seus versos, minhas lágrimas! Lindo poema, tocaram fundo, na alma! Descreves de maneira simples, mas profunda, a realidade dura da vida! Parabéns Ludiro!

Anônimo disse...

TrabisDeMentia
Localidade: Portugal

Re: Droga de vida! Vida na droga!
Ludiro! Estou encantado consigo. Primeiro ponto, espreitei seu blog. Será um crime contra a cultura se não o divulgar aqui no site! Seu blog está perfeito, poemas lindissimos, li três mas deu para ver que é um grande poeta! Segundo, esta sua prosa. Li do principio ao fim freneticamente, tudo bem encadeado, o tema tambem foi muito bem estudado, alguma giria e tal mas é normal, em nada me incomoda. Percebi enfim que também domina a prosa. Terceiro mas não menos importante, seja bem vindo ao site, encontrará aqui pelo menos um fã!

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Usuário: TrabisDeMentia